sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CARTAS DE AMOR - RUBEM ALVES


Leio e releio o poema de Álvaro de Campos. Oscilo. Não sei se devo acreditar ou duvidar. Se acredito, duvido. Duvido porque acredito. Pois foi ele mesmo quem disse – ou melhor, o seu outro, o Fernando Pessoa – que ele era um fingidor. “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas...”


Tenho no meu quarto, acima da cabeceira da minha cama, a reprodução de uma das telas mais delicadas que conheço, A mulher que lê, de Johannes Vermeer (1632-1675). Uma mulher, de pé, lê uma carta. O seu rosto está iluminado pela luz da janela. Seus olhos lêem o que está escrito naquela folha de papel que suas mãos seguram; a boca ligeiramente entreaberta, quase num sorriso. De tão absorta, ela nem se dá conta da cadeira, ao seu lado. Lê de pé.


Penso ser capaz de reconstituir os momentos que antecedem este que o pintor fixou. Pancadas na porta interromperam as rotinas domésticas que a ocupavam. Ela vai abrir e lá está o carteiro com uma carta na mão. Pela simples leitura do seu nome no envelope, ela identifica o remetente. Ela toma a carta e, com este gesto, toca uma mão muito distante. Para isto se escrevem as cartas de amor. Não para dar notícias, não para contar nada, não para repetir as coisas por demais sabidas, mas para que mãos separadas se toquem, ao tocarem a mesma folha de papel.


Barthes cita estas palavras de Goethe: “Por que me vejo compelido novamente a escrever? Não é preciso, querida, fazer pergunta tão evidente, porque, na verdade, nada tenho para te dizer. Entretanto tuas mãos queridas receberão este papel...”


De quem será a carta? Um quadro na parede dos fundos da sala nos dá uma pista. É um tema masculino: um mapa mundi. O que nos faz supor que o homem que escreveu a carta para a sua mulher – ela está grávida! – é um marinheiro. É possível imaginar a véspera da partida. Dilacerado pela distância que o aguarda, ele imagina o tempo da separação. Quantos meses? Quantos anos? Quantos naufrágios? Vem-lhe então uma idéia: sai e compra um mapa mundi como presente para sua mulher.
“Meu bem, quando eu estiver longe e me lembrar de você, saberei onde você está: no quarto, na sala, na cozinha... Mas você não saberá onde estarei... Por isso esse mapa mundi, para que você saiba... “É por aqui que iremos navegar”, ele diz escorregando a mão, mostrando estreitos, baias, ilhas... Quando você sentir saudade passe a sua mão pelos lugares onde estou passando a minha. Eu estarei em algum lugar e sentirei o seu carinho.
Naquela tarde, ele lhe deu o mapa. Naquela noite ele lhe deu um filho. O tempo passou. A barriga cresceu. E a saudade ficou nos horizontes vazios. Até que a carta chegou...


Volto ao Álvaro de Campos. Será esta a razão do ridículo das cartas de amor – o descompasso entre o que elas dizem e aquilo que elas realmente querem fazer? Pois o propósito explícito de uma carta é dar notícias, e é por isso que elas são feitas de palavras.


Mas o que elas realmente desejam realizar está sempre antes e depois da palavra escrita – elas querem realizar aquilo que a separação proíbe: o abraço. Quem quer que tente entender uma carta de amor pela análise da escritura estará sempre fora de lugar, pois o que ela contém é o que não está ali, o que está ausente. Qualquer carta de amor, não importa o que se encontre nela escrito, só fala do desejo, da dor da ausência, da nostalgia pelo reencontro.


Aquela carta fez tudo parar. A mulher fecha a porta e caminha pela casa sem nada ver, buscando uma coisa apenas, a luz, o lugar onde as palavras ficarão luminosas. Que lhe importa a cadeira? Esqueceu-se de que está grávida. Seus olhos caminham pelas palavras que saíram das mesmas mãos que a abraçaram. Seu corpo está suspenso naquele momento mágico de carinho impossível que aquele pequeno pedaço de papel abriu no tempo do seu cotidiano.


Uma carta de amor é um papel que liga duas solidões. A mulher está só. Se há outras pessoas na casa, ela as deixou. Bem pode ser que as coisas que estão nela escritas não sejam nenhum segredo, que possam ser contadas a todos. Mas, para que a carta seja de amor, ela tem de ser lida em solidão. Como se o amante estivesse dizendo: “Escrevo para que você fique sozinha...” É esse ato de leitura solitária que estabelece a cumplicidade. Pois foi da solidão que a carta nasceu.


A carta de amor é o objeto que o amante faz para tornar suportável o seu abandono.
Olho para o céu. Vejo a Alfa Centauro. Os astrônomos me dizem que a estrela que agora vejo é a estrela que foi há dois anos. Pois foi esse o tempo que sua luz levou para chegar até os meus olhos. O que eu vejo é o que não mais existe. E é inútil que eu me pergunte: “Como será ela agora? Existirá ainda?” Respostas a essas perguntas eu só vou conseguir daqui a dois anos, quando a sua luz chegar até mim. A sua luz está sempre atrasada. Vejo sempre aquilo que já foi...


Nisto as cartas se parecem com as estrelas. A carta que a mulher tem nas mãos, que marca o seu momento de solidão, pertence a um momento que não existe mais. Ela nada diz sobre o presente do amante distante. Daí a sua dor. O amante que escreve alonga os seus braços para um momento que ainda não existe. A amante que lê alonga os seus braços para um momento que não existe mais. A carta de amor é um abraçar do vazio...


“Ainda bem que o telefone existe”, retrucarão os namorados modernos, que não mais têm de viver o amor no espaço das ausências. Engano. Um telefonema não é uma carta falada. Pois lhe falta o essencial: o silêncio da solidão, a calma da caneta pousada sobre a mesa que espera e escolhe pensamentos e palavras. O telefone põe a solidão a perder. Num telefonema a gente nunca diz aquilo que se diria numa carta. Por exemplo: “Eu ia andando pela rua quando, de repente, vi um ipê-rosa florido que me fez lembrar aquela vez...” Ou: “Relendo os poemas de Neruda encontrei este que, imagino, você gostará de ler...”
A diferença entre a carta e o telefone é simples. O telefonema é impositivo. A conversa tem de acontecer naquele momento. Falta-lhe o ingrediente essencial da palavra que é dita sem esperar resposta. E, uma vez terminado, os dois amantes estão de mãos vazias.


Mas a mulher tem nas mãos uma carta. A carta é um objeto. Se não tivesse podido recolher-se à sua solidão, ela poderia tê-la guardado no bolso, na deliciosa espera do momento oportuno. O telefonema não pode esperar. A carta é paciente. Guarda as suas palavras. E, depois de lida, poderá ser relida. Ou simplesmente acariciada. Uma carta contra o rosto – poderá haver coisa mais terna? Uma carta é mais que uma mensagem. Mesmo antes de ser lida, ainda dentro do envelope fechado, tem a qualidade de um sacramento: presença sensível de uma felicidade invisível...


“Afinal, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor são ridículas.”


(Alves, Rubem. O retorno e terno, Campinas: Papirus, 1994)



(enviado pela amiga Aliene)


ETERNO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata!


Fácil é ouvir a música que toca. Difícil é ouvir a sua consciência acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.


Fácil é ditar regras. Difícil é segui-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.


Fácil é perguntar o que deseja saber. Difícil é estar preparado para escutar esta resposta. Ou querer entender a resposta.


Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade. Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.


Fácil é dar um beijo. Difícil é entregar a alma sinceramente, por inteiro.


Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida. Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.


Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica. Difícil é ocupar o coração de alguém. Saber que se é realmente amado. Fácil é sonhar todas as noites. Difícil é lutar por um sonho.


Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar. Difícil é mentir para o nosso coração.


Fácil é ver o que queremos enxergar. Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto. Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.


Fácil é dizer "oi" ou “como vai”? Difícil é dizer "adeus". Principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...


Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados. Difícil é sentir a energia que é transmitida. Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.


Fácil é querer ser amado. Difícil é amar completamente só. Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar. E aprender a dar valor somente a quem te ama. Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião. Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá...


Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias. Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.


Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir. Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso. E com confiança no que diz.


Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação. Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer. Ou ter coragem pra fazer.


Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado. Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende. E é assim que perdemos pessoas especiais.
(enviado pela amiga Aliene)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

'A importancia da vida'


"Deus costuma usar a solidão
para nos ensinar sobre a convivência.
Às vezes, usa a raiva,
para que possamos compreender
o infinito valor da paz.

Outras vezes usa o tédio,
quando quer nos mostrar a importância

da aventura e do abandono.
Deus costuma usar o silêncio

para nos ensinar sobre a responsabilidade
do que dizemos.
Às vezes usa o cansaço,
para que possamos compreender
o valor do despertar.
Outras vezes usa doença,
quando quer nos mostrar
a importância da saúde.

Deus costuma usar o fogo,

para nos ensinar sobre água.
Às vezes, usa a terra,
para que possamos compreender o valor do ar.
Outras vezes usa a morte,
quando quer nos mostrar
a importância da vida"

Fernando Pessoa

Pra me conquistar...

"Pra me conquistar

basta dizer tudo aquilo

que nunca ouvi de ninguém

vestir como homem e não como gay

me tocar sem medo, sem segredo

entrar e sair da rotina sem que eu note

me levar para lugares exóticos

e lugares comuns


Saber ficar em silêncio e assim me dizer tudo

gostar de rock como eu gosto

e de coisas que eu não gosto

compreender a vida como é

e buscar o outro lado

saber a hora exata de ficar e ir embora

mas não vá!"
Martha Medeiros

Se você faz projetos para um ano, plante arroz;

Se você faz projetos para dez anos, plante uma árvore;

Se você faz projetos para cem anos, eduque seus filhos;

Se você faz projetos para mil anos, cultive a vida interior.


(Provérbio chinês)

O AUSENTE, PRESENTE, DISTANCIA DIFERENTE


"Nem demais e nem de menos

Nem tão longe e nem tão perto

Na medida mais precisa que eu puder

Mas amar-te como próximo, sem medida,

E ficar sempre em tua vida

Da maneira mais discreta que eu souber

Sem tirar-te a liberdade

Sem jamais te sufocar

Sem forçar a tua vontade

Sem falar quando for a hora de calar

E sem calar quando for a hora de falar

Nem ausente nem presente por demais,

Simplesmente, calmamente, ser-te paz.

É bonito ser amiga,

Mas confesso,

É tão difícil aprender,

Por isso, eu te peço paciência

Vou encher este teu rosto

De alegrias, lembranças!

Dê-me tempo

De acertar nossas distâncias"


Fernando Pessoa

domingo, 13 de junho de 2010

Saudade - Dr. Rogério Brandão

O Que é Saudade?

Dr. Rogério Brandão

(Médico Oncologista Clínico - RC Recife Boa Vista D4500 -Cremepe 5758

Médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional, com toda vivência e experiência que o exercício da medicina nos traz, posso afirmar que cresci e me modifiquei com os dramas vivenciados pelos meus pacientes. Dizem que a Dor é quem ensina a Viver. Não conhecemos nossa verdadeira dimensão, até que pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além. Descobrimos uma força mágica que nos ergue, nos anima, e não raro, nos descobrimos confortando aqueles que vieram para nos confortar.

um dia, um anjo passou por mim...

No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar de crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos surpreendem com suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias verdades.

Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não os somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses.

Somos forçados a reconhecer nossos limites!

Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a frequentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer. Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças.

Até o dia em que um anjo passou por mim.

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada, porém, por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia. Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira e com uma lágrima nos olhos dizia: - 'faça tia, é preciso para eu ficar boa'.

Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção. Meu anjo respondeu:
- Tio, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei: - E o que a morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é? (Lembrei que minhas filhas, na época com 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.) - É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: -Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?

- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualid ade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muita saudade minha, emendou ela.

Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo:
- E o que a saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não, tio?
- Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um a dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!

Um anjo passou por mim...

Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.

Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chao "meu anjo, que brilha e resplandece no céu". Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.

Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve,pelas lições que ensinaste, pela ajuda que me deste. Que vom que existe saudades!

O amor que ficou é eterno.

(enviado pela amiga Aliene)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

AMOR INCONDICIONAL



Amor Incondicional
Silvana Duboc

Tantos tipos de amor tenho visto por aí. Amores fracos, desnutridos de coragem; amores fortes, que atravessam muitas barreiras, mas que em certo momento tropeçam numa pequena pedra, caem e não conseguem mais se levantar. De tantos e todos os tipos de amor que conheci, houve um que jamais esquecerei: o amor incondicional, aquele que existe apesar de, e que atravessa qualquer tipo de tempestade, tropeça em muitos obstáculos e mesmo assim não deixa de existir; não altera a sua rota, não diminui a sua dimensão, não perde o seu peso, não permite que o seu brilho seja ofuscado. Só ama incondicionalmente quem é possuidor de uma alma grande, e esse tipo de alma normalmente é acompanhada de um espírito de luz.

Amar assim é não viver subjugado a "mas..." e "poréns...", é não ter critérios para doar esse amor, é não exigir troca e abrir mão de reciprocidade. Quando se ama incondicionalmente tem um espaço dentro do cérebro que fica reservado em definitivo para que nas vinte e quatro horas do dia o pensamento não se afaste do objeto desse amor. Já no coração, não existe um espaço designado para guardá-lo, porque ele é todo esse amor, vivenciado e sentido enquanto ele bater.

Amor incondicional não tem orgulho de nenhuma espécie. Não se envaidece de sua capacidade, nem de sua força, não tem necessidade de alardear a sua existência, nem demonstrar o seu imenso universo, ele é simplesmente um amor humilde, puro e despretensioso e justo por isso se torna grandioso. Corações que vivem esse tipo de amor, são generosos, eternos, mesmo depois que param de bater, são sublimes e por isso conseguem guardar dentro deles tanta ternura.

Amor incondicional não faz de conta que é, não se obriga a desistir de si mesmo, não precisa viver de fantasias, nem andar travestido de ilusões para prosseguir o seu caminho. Esse amor do qual estou falando é por si só inteiro, não agoniza e muitas vezes inexiste aos olhos dos outros, mas quem ama incondicionalmente, sabe a receita exata de como vivê-lo sem dores.

Felizes daqueles que despertam essa maneira de amar em alguém, esses sim, têm motivos de sobra para se orgulhar por terem conseguido atingir de forma tão especial um coração carregado do mais puro dos sentimentos. Amor se torna incondicional quando ele já se acomodou dentro do peito, já se conformou com a estrada que terá que percorrer e já não há mais possibilidade de derrapar em nenhuma curva desse caminho, nem ser atropelado por qualquer dúvida. É quando também, o que ficou para trás já não importa e o que está por vir não vai mudar nada.

O amor incondicional é aquele que doa o melhor de si, mesmo que esteja recebendo o pior de alguém, porque ele não depende de ser querido, nem de ser aceito e não esmorece se for ignorado. Esse amor é daqueles amores que no passado já sangraram muito, latejaram, abriram enormes feridas, mas que ainda assim não deixaram marcas nem cicatrizes, porque a partir daí, resplandeceram e passaram a viver em eterno estado de graça até o instante que se eternizaram.

Há quem diga que o amor incondicional é masoquista, isso não é verdade, esse tipo de amor é o inútil. O amor inútil sim, alimenta-se de sofrimento, resiste a tudo com esperanças de alcançar o seu objetivo, que já ficou bem claro, não será conquistado. O amor inútil é aquele que já foi embora mas saiu tão mansamente que nem deixou que percebessem sua partida, ao contrário do incondicional, que se instalou dentro de alguém e não pretende procurar a saída.

O amor incondicional não corre atrás de sonhos impossíveis, não precisa disso. Ele já é maduro, há muito deixou de ser adolescente, e envelhecer também não está nos seus planos, porque o amor que se torna velho, é um amor cansado, desgastado, exaurido. Já o incondicional é e sempre será, ativo, independente, coerente, auto-suficiente, porque se reserva o direito de ser solitário e ainda assim completo e realizado, porque reside nele a certeza de sua inocência, pureza e sinceridade.

Existe um encontro marcado entre o amor incondicional, a glória e o esplendor em algum canto do mundo, em algum instante da vida ou em algum momento após a morte, mas ele não conta os dias para isso, nem sequer consulta o relógio, embora para ele, o momento desse encontro seja a grande magia da sua existência. Amor incondicional é de uma elegância imensurável, de uma postura invejável e de uma personalidade única.

Felizes daqueles que são merecedores de serem amados incondicionalmente e mais felizes ainda, aqueles que se permitem amar assim, porque são eles os grandes heróis da vida. Infelizes daqueles que não conseguem perceber quando despertam esse tipo de amor, que não têm a sensibilidade de sentí-lo ao seu redor e valorizá-lo independente do que podem oferecer a ele.

Amar incondicionalmente é uma arte.

Ser amado assim, um presente divino.

[enviado pela amiga Aliene]

UM JARDIM ENCANTADO


UM JARDIM ENCANTADO
por: Sonia Pineda Vicente

No meu jardim mora um lago
com o espelho d'agua mais lindo
todo verde, tom sobre tom
como a natureza criou
mostra algo infindo
que a eternidade com seu dom
trouxe a paz e a infinitude realizou
É um lugar especial
pra meditar, e
num respirar profundamente
te encanta tanta beleza
faz bem a mente,
o respeito a natureza...
Rumo ao céu ininito
cada ramo se espalha
no espelho d'agua nem acredito
a perfeição que retrata
sonho acordada...
parece outro mundo, infinito
um encanto pra alma,
esta é a minha morada!
Como lindo são estes arvoredos
majestosos, imponentes, soberanos
só precisam da terra, da agua e do sol!
Tanto temos que aprender com a natureza...



quarta-feira, 26 de maio de 2010

AS PALAVRAS


AS PALAVRAS

por: Sonia Piineda Vicente

Neste teatro da vida
as palavras vêm
as palavras trazem um sentido.
Outras deixam um vazio...
Se entrelaçam,
se associam livremente...
E eu quase enlouqueço.
O que é real para mim?
Não o encontro.
Quero ver em você
para introjetar em mim
o que de bom ficou,
a luz que restou.
A semente do fim
enfim germinou...
Este encontro inevitável
deixa cair a máscara.
O pano cai,
algo fica para trás:
O objeto do meu desejo,
que pela vida afora
continuo a minha trajetória,
na busca da verdade,
"a coisa em si" não é encontrada...
No caminho simbólico
da busca desta verdade,
Eu encontro a plena certeza
de que estar no caminho,
é o encontro comigo mesma!

O TEMPO DO NOVO



O Tempo do Novo

por: Sonia Pineda Vicente

O tempo de nós,

que buscamos sós,

respostas dos nós

dos tempos idos de Oz.

O que passa no tempo,

da brisa forte e do vento,

que a sós buscamos

no intento

de encontrar alegria,

paz e alento.

Um coração que palpita,

de alegrias e tristezas malditas.

Chora, ri, se cala ou grita,

Transforma e abdica.

O tempo de nós sós,

no vento

que busca paz e alento,

nos traz alegrias,

coragem e amor;

fazendo na palavra

a verdade florescer,

em um novo coração a palpitar

com nova esperança de viver!

ESCOLHAS



ESCOLHAS

por:Sonia Pineda Vicente

Que dor é esta que te abate

Que no teu peito bate

Você chora,

Diz que vai embora

Nem pensar

Em sonhar

Outra vez?

Que escolha você fez?

Por que este lamento?

Se há horas atraz

havia o alento.

A alegria dava lugar

ao tormento

da angustia

do que partiu

do que te feriu...

Por que agora

instantes de felicidades

atroz vaidade

de querer

que durasse

uma eternidade!!!

Sonho, fantasia,

Deliberadamente

Você escolhe

inconscientemente...

O momento passa

Você vai e busca novamente

Repetindo, repetindo

Até quando?

domingo, 23 de maio de 2010

do poeta Kazantzakis



“Em mim ressoa uma ordem :
- Cava! Que vês?
- Homens e pássaros, pedras e flores
- Cava mais! Que vês?
- Idéias e sonhos, clarões, fantasmas...
- Cava mais ainda! Que vês?
- Nada. Uma noite densa, muda, surda como a morte ... Deve ser a morte.
- Cava mais um pouco!
- Ah! Não consigo penetrar mais a muralha negra!
Ouço gritos e prantos.
Ouço frêmitos de asas que vem da outra margem!
- Não chores, não chores, não vêm da outra margem! Os gritos, os prantos e as asas... vêm do teu coração! "

Kazantzakis

'SEU PRÓPRIO MUNDO'


"Nada lhe posso dar que não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo."
Hermann Hesse

'UM PÁLIDO PONTO AZUL'


"... a astronomia é uma experiência que forma o caráter e ensina a humildade."


http://www.youtube.com/watch?v=HurA3M_CBJY

domingo, 16 de maio de 2010

Para ser Grande, sê Inteiro

Para ser grande, sê inteiro:
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha,
Porque alta vive.
Ricardo Reis

Ricardo Reis é um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Pessoa foi um dos mais importantes poetas de Portugal. Nascido no século XIX, teve uma vida bastante discreta, passando por várias profissões. Do jornalismo ao comércio, o poeta deixou ao Mundo obras como o Livro do Desassosego, Mensagem, entre outros.

Imagem: Retrato de Fernando Pessoa, de Almada Negreiros. Actualmente, encontra-se no Museu da Cidade, em Lisboa.

EDELWEISS



Edelweiss: você já foi presenteada com um?

Edelweiss são florzinhas brancas, comuns no alto das montanhas austríacas. Edelweiss significa branco nobre ou raro. Parece um algodão fofinho, macio e branquinho como a neve.
Reza a lenda que os jovens subiam o pico mais alto das montanhas, superando todas as dificuldades só para pegar uma destas florzinhas para dar para a sua amada, a escolhida para ser seu grande amor, fazendo assim uma declaração de amor eterno... Quem assistiu o filme A Noviça Rebelde se encantou com a canção edelweiss... Na Austria, na Alemanha, Bulgaria... você encontra nas lojas de souvenir um edelweisss para colocar na sua corrente, no seu cabelo... Afinal, para os que compreendem, nenhuma explicação é necessária e para os que não compreendem, nenhuma explicação é possível!!!


sábado, 17 de abril de 2010

FAZENDO DE CONTA

Fazendo de Conta - Letícia Thompson


Se o mundo fosse uma brincadeira de faz-de-conta, faríamos de conta que tudo é sempre bonito. E mesmo se o mundo não é um grande livro de contos de fadas, estamos sempre querendo fazer de conta. Fazemos de conta que somos felizes; que o amor não acabou, que ainda existe desejo. Tentamos nos convencer que todas as decisões que tomamos no passado foram acertadas.Talvez por medo de termos que confessar que em algum lugar da nossa vida, falhamos.

É difícil ter de admitir que nos enganamos de caminho. Mas o mais difícil é pensar que vamos decepcionar outros. Apesar de tudo, o que os outros vão pensar pesa muito nas nossas vidas. Assim vamos fazendo de conta que está tudo bem. E chega um dia onde não encontramos mais saída.

E a gente chora...
Chora na encruzilhada onde se encontra, chora no labirinto da vida, onde não queremos nem ir à frente e nem voltar atrás, mas sabemos que teremos que achar o caminho de qualquer jeito. E lamentamos o não saber o que fazer. Nos sentimos perdidos mesmo quando queremos fazer de conta que não.
Pensamos que seria melhor fingir que não existe problema nenhum; ou que podemos passar uma borracha e recomeçar tudo; ou então nos dizemos que bom mesmo seria voltar à infância inocente, sem esses "problemas de adultos" e até ir dormir mais cedo para que amanhã chegue logo.

Porque agora, às vezes desejamos que nunca chegue... Mas somos adultos, mesmo se nosso "eu" criança se sente perdido. Somos adultos e donos da nossa vida, das nossas vontades, embora intimamente sintamos a necessidade de pedir que alguém decida por nós para nos livrar do peso da responsabilidade da escolha. É preciso enfrentar a realidade, mesmo que doa; é preciso ter a coragem de tomar uma decisão e fazer escolhas, mesmo se daqui a dez anos vamos perceber que nos enganamos de caminho. Se enganar não é pecado; pecado é se saber enganado e continuar no mesmo trilho. É uma ofensa ao próprio eu.

Dê a você mesmo a oportunidade de ser feliz, sendo quem é, como é. Saia do marasmo do dia-a-dia que mata e construa algo sólido onde se apoiar. A vida não espera por nós e não é por fingir que o tempo não passa que os relógios vão parar.
Chorar é bom e pode aliviar as tensões, mas nunca resolveu problema nenhum. Enxugue então suas lágrimas para que tenha uma visão mais clara do que é sua vida.
Tire a máscara do faz-de-conta e viva de cara lavada, mesmo se no momento não for o melhor que você tenha para apresentar ao mundo. Com o tempo você vai aprender que tudo fica mais fácil e você se sentirá aliviado. Não se pergunte o que vai fazer depois: aprenda com seus erros e dê o melhor de si. Dê a você mesmo uma chance de ser feliz, porque ninguém vai fazer isso por você.

[recebido da amiga Aliene]

A DOR DE CADA UM


A DOR DE CADA UM

Pr. Estevam Fernandes de Oliveira

Cada um traz consigo uma certa dose de mistério. É o jeito de cada um. São peculariedades que tornam cada sr humano um ser único, com reações próprias, com especificidades que vão do gosto ao desgosto, do sorrir ao chorar. Na verdade ninguém é igual a outrem, inclusive na forma de sentir sua própria dor. Existe a dor de cada um.

Todos temos diferente graus de sensibilidade. Nem sempre os que estão perto de nós entendem as razões e a intensidade de nossa dor. São sentimentos muito íntimos, são experiências muito pessoais. Os fatos da vida ganham ou perdem sentido quando afetam a nossa sensibilidade. Por isso mesmo, ainda que haja uma massificação do sofrimento, como ocorre nas tragédias coletivas, ainda assim existirá a dor de cada um.

A vezes numa mesma casa, sob um mesmo teto, um chora e outro ri, ou numa mesma cama, sob o mesmo lençol um dorme em paz e o outro agoniza em dor. Daí conhecer alguém em profundidade, é acima de tudo, entender a voz do coração, que muitas vezes, é exteriorizada pela linguagem das lágrimas. Os relacionamento mais significativos como maridos e esposas, pais e filhos, amigos e namorados deixam marcas profundas em nós inclusive de sofrimento.

Toda relação positiva exige um respeito para com a dor do outro. Esse respeito se dá quando não menosprezamos as lágrimas de alguém e tentamos entender as razões de seu sofrimento. A dor de cada um é também a maneira como individualmente expressamos nossas frustrações, amarguras, desencantos, perplexidade, tristezas e lamentos. É uma forma bem humana de rejeitarmos a dor, é uma maneira corajosa de revelarmos nossa interioridade.

Estranhamente também a dor é uma espécie de combustível para a vida. Uma força que nos obriga a olhar a olhar sempre para a frente, com os olhos da esperança. é o aprendizado, silencioso de quem valoriza suas próprias lágrimas. As grandes perdas, o luto, as enfermidades, o término de relacionamentos, as ingratidões, as tragédias, enfim as experiências dolorosas da vida acabam injetando em nós a vontade de viver, o desejo de superação. É a dor como semente de vida.

Na experiência da dor Deus se revela como amigo fiel, trazendo consolo, proteção e fortaleza. Ele é o socorro bem presente na angústia. Por ser o Pai de todos, Ele está sempre presente na DOR DE CADA UM!