O Absurdo do Cúmulo da Felicidade
"Agora
pergunto-lhe: o que podemos esperar do homem enquanto criatura dotada
de tão estranhas qualidades? Faça chover sobre ele todos os tipos de
bênçãos terrenas; submerja-o em
felicidade até acima da cabeça, de modo que só pequenas bolhas apareçam
na superfície dessa felicidade, como se em água; dê a ele uma
prosperidade econômica tamanha que nada mais lhe reste para ser feito,
exceto dormir, comer pão-de-ló e preocupar-se com a
continuação da história mundial — mesmo assim, por pura ingratidão, por
exclusiva perversidade, ele vai cometer algum ato repulsivo. Ele até
mesmo arriscará perder o seu pão-de-ló e desejará intencionalmente o
mais depravado lodo, o mais antieconômico absurdo,
simplesmente a fim de injetar o seu fantástico e pernicioso elemento no
âmago de toda essa racionalidade positiva."
Fiodor Dostoievski - escritor russo:1821-1881, em 'Notas do Subterrâneo'
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